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Há cada vez mais pessoas a fotografar surf. Hoje em dia, quando chegamos à praia, junto à orla marítima e antes do lugar onde as ondas quebram, é comum depararmo-nos com objectivas imponentes, apontando para a água, em busca do momento certo para fixar o movimento das pranchas. Mas, se há cada vez mais pessoas a fotografar surf, nem por isso temos mais imagens capazes de reflectir o surf tal como ele de facto é.
Pedro Adão e Silva (Setembro de 2011)
Geral
Patente de 05 de Novembro a 31 de Dezembro de 2011, Sala de Exposições - Edifício Cultural da Câmara Municipal de Peniche.









28 Setembro 2011
> Cartaz da Exposição (pdf)
Há cada vez mais pessoas a fotografar surf. Hoje em dia, quando chegamos à praia, junto à orla marítima e antes do lugar onde as ondas quebram, é comum depararmo-nos com objectivas imponentes, apontando para a água, em busca do momento certo para fixar o movimento das pranchas. Mas, se há cada vez mais pessoas a fotografar surf, nem por isso temos mais imagens capazes de reflectir o surf tal como ele de facto é.
Como sabe qualquer surfista, surfar não é apenas remar para uma massa de água, colocarmo-nos em pé numa prancha e, num difícil equilíbrio, percorrer a parede de uma onda que nos empurra para terra. Isso é a componente visível do surf. Mas é também uma parte ínfima da experiência de surfar. Há muito surf para além do surf.
É aí que as fotografias do Ricardo Bravo fazem a diferença. Não estamos apenas perante um excelente fotógrafo de surf. O mais notável no Ricardo Bravo é a capacidade de, fotografando o surf, mostrar o mundo que existe em volta do surf. Um mundo feito de esperas pacientes; de conversas suspensas à beira mar; de ondas que se revelam entre feixes de luz branca; de momentos em que ficamos suspensos entre a força do mar que, enquanto nos consome, sugere-nos uma grandeza física que nós próprios desconhecíamos; e, claro, da independência que só se encontra na solidão que experimentamos sentados na prancha, aparentemente perdidos no meio do mar. As fotografias do Ricardo Bravo são um pretexto para anunciar um segredo: o surf não se esgota no surf. A escritora norte-americana Susan Sontag, autora de algumas das reflexões mais interessantes sobre fotografia, escreveu que “a câmara fotográfica faz de cada pessoa um turista na realidade dos outros e, eventualmente, na sua própria realidade”. Um bom fotógrafo é necessariamente alguém capaz de olhar para as coisas com uma visão inocente e primeira, em princípio só ao alcance de quem é estranho à realidade que fotografa. Quando olho para as fotografias do Ricardo Bravo é isso que vislumbro: um olhar primeiro, de turista, não viciado no mundo que fotografa e por isso capaz de o revelar imaculado. Este conjunto de fotografias confirma que, para além de capacidade técnica que lhe permite fotografar com mestria o surf, o Ricardo Bravo tem uma intuição que torna possível cristalizar os momentos em volta do surf com a mesma intensidade. É isso que faz dele um grande fotógrafo e, por acréscimo, um grande fotógrafo de surf.
Pedro Adão e Silva (Setembro de 2011)
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