Tiago Pires, o único atleta português a integrar o World Tour (Circuito Mundial de Surf), foi o vencedor da prova, que tinha como premissa realizar-se apenas quando se verificassem condições de excelência para a prática da modalidade.
A competição decorreu em ondas de 2 metros sem vento de manhã e vento off-shore (de terra) à tarde, proporcionando um cenário de gala para a execução da manobra-rainha do surf: o tubo. Palco habitual da etapa portuguesa do World Tour, que todos os anos traz os melhores surfistas do mundo ao nosso país, a praia de Supertubos voltou a proporcionar ao público português um espetáculo de surf único, com os tubos a dominarem as performances dos atletas.
“Em termos de ondas estivemos muito bem servidos”, disse Tiago Pires, que culminou a sua prestação com uma nota máxima (10 pontos) na final. “É um campeonato que se realiza num só dia, por isso é preciso ter sorte e conseguir um dia inteiro de boas ondas. O mar esteve bom da primeira à última ronda e permitiu dar espetáculo”, concluiu.
Confrontado com um possível paralelo, à escala nacional, entre o Rip Curl Capítulo Perfeito e o Pipeline Masters, cujo título muitos surfistas do World Tour tendem a fazer equivaler em importância ao título mundial, Saca sugere que serão precisos alguns anos até que o evento alcance eventualmente um estatuto semelhante em Portugal. “O campeonato de Pipeline tem um historial de 40 anos. Muitos campeões do mundo consagraram-se naquela onda. Mas se este evento for mais dinamizado, com um prize money maior, é possível dar mais prestígio à prova, sobretudo porque as ondas são espetaculares. Acho que é a única coisa que esta a faltar, porque de resto está tudo reunido para ser um sucesso.”
Em segundo lugar ficou o surfista da Figueira da Foz Ivo Cação, atleta que competiu com o braço engessado devido a uma fratura no pulso. Contra todas as probabilidades, Ivo avançou ronda após ronda até à final, onde também ele alcançou uma nota quase perfeita (9.67 pontos em 10 possíveis). Pelo caminho, eliminou alguns dos principais candidatos à vitória, com destaque para Vasco Ribeiro, atual campeão nacional de surf.
“Com gesso no braço, é mais difícil pôr-me de pé e furar as ondas. Quase tive de ir a nado lá para fora. Na Figueira, temos várias ondas de qualidade fora do normal e estou habituado a surfar bons tubos, daí ter-me adaptado bem mesmo estando lesionado”, afirmou Ivo Cação, antes de referir-se à final contra Tiago Pires como tendo sido “épica”. “Nunca tinha competido diretamente com o Tiago e isso deu-me uma motivação extra. Tanto assim foi que, depois de ele ter feito o 10, fiquei com tanta vontade de responder que tive de me atirar àquela onda e fazer um tubo na casa do excelente. Infelizmente, não consegui apanhar uma segunda onda boa”.
“O Ivo foi o atleta mais difícil de bater”, reagiu, por sua vez, Tiago Pires. “Foi o único que respondeu realmente à altura. Quando se faz um 10 numa prova de surf, geralmente estamos praticamente garantidos, mas com o Ivo foi renhido até ao fim. Tive de permanecer concentrado, fazer uma segunda onda boa e assegurar que ele não capitalizava sobre a sua primeira nota”.
Tiago Pires foi ainda distinguido com o prémio Melhor Tubo by Cidade FM, destinado ao surfista que completasse o tubo mais profundo.
Frederico Morais, atleta do Guincho, também subiu ao pódio para reclamar o prémio da Expression Session, uma prancha Polen personalizada com o logotipo do Rip Curl Capítulo Perfeito.
Na cerimónia de entrega de prémios, António José Correia, presidente da Câmara Municipal de Peniche, dirigiu agradecimentos à organização, patrocinadores e surfistas locais, realçando a determinação da sua equipa em manter o Rip Curl Capítulo Perfeito associado ao município que dirige. “Tudo faremos para que no próximo ano possa haver as cenas dos próximos capítulos novamente nesta praia”, disse o autarca. “Quando em Portugal, numa altura de grandes desafios, existem jovens que vêm até nós com propostas em que eles próprios são os atores principais, é óbvio que só podemos apoiar.”
Também da parte da Rip Curl Portugal, naming sponsor do evento, José Farinha, diretor geral, frisou a originalidade do conceito do evento e, igualmente, manifestou a sua vontade de permanecer associado a esta iniciativa. “Foi um desafio pôr em prática este novo conceito e, naturalmente, ainda há arestas a limar, mas sem dúvida que ter os melhores surfistas nas melhores ondas é uma ideia inovadora. Há muita coisa que se pode melhorar a partir daqui”, rematou.
Recorde-se que os surfistas que participaram no Rip Curl Capítulo Perfeito foram apurados pelo público através de votação online no site oficial do evento, a partir de uma lista de 30 atletas previamente disponibilizada pela organização. Fizeram parte da lista de convocados, para além dos surfistas acima mencionados, Edgar Nozes, Frederico Morais, João Guedes, Ruben Gonzalez, Justin Mujica, João Macedo, Ivo Santos, António Silva, José Gregório, Tiago Oliveira, Rodrigo Herédia e Jorge Cação. A organização atribuiu ainda wildcards ao ator Pedro Lima e ao surfista local de Peniche Nuno Silva.