Na sequência da ocorrência recente de acumulações de algas nas praias a norte do Baleal (concelho de Peniche), designadamente entre o Lagido e Almagreira, a APA-Agência Portuguesa do Ambiente esclarece o seguinte:
1 - As acumulações de macroalgas nas praias são um fenómeno cíclico e natural que não põe em causa a qualidade da água balnear e a saúde pública. Estas ocorrências são acompanhadas e monitorizadas de perto pelas autoridades competentes.
2 – Este fenómeno tem sido frequente ao longo da época balnear de 2021, registando-se ocorrências em vários pontos da costa portuguesa como resultado de condições meteorológicas e oceanográficas favoráveis ao desenvolvimento e movimentação das massas de algas.
3 – As macroalgas que se acumularam ao longo do troço costeiro entre a praia do Lagido e Almagreira incluem-se no filo Chlorophyta, algas-verdes, tratando-se de espécies do género Ulva. Estas espécies tendem a multiplicar-se sobretudo em sistemas estuarinos e lagunares, sob condições ideais de temperatura, luz e disponibilidade de nutrientes, sendo posteriormente exportadas pelas barras de maré e acabando por ser depositadas na linha de costa de acordo com o sentido das correntes.
4 - Note-se que as espécies referidas são algas indígenas da costa portuguesa, não constituindo por si só um fator de degradação ambiental e desempenhando até um papel importante na deposição de matéria orgânica nas praias suportadas por sistemas dunares.
5 – Apesar da acumulação de algas poder parecer excessiva em determinados locais, as espécies de Ulva tendem a secar rapidamente com a exposição ao sol e ao ar, não produzindo, normalmente, grandes massas de material em decomposição com maus cheiros associados.
6 – A análise e interpretação dos dados disponíveis até à data sugerem que a origem das acumulações de algas verificada entre as praias do Lagido e Almagreira parece relacionar-se com a lagoa de Óbidos, onde se observou proliferação de algas verdes nas últimas semanas. Estas algas terão sido exportadas para o mar através da barra, pela ação das marés (durante a vazante), sendo posteriormente transportadas para sul pela ação conjugada das ondas e correntes costeiras. Refira-se que já em junho e julho do corrente ano tinham sido observadas ocorrências de algas semelhantes às agora verificadas.
7 – O acima exposto configura a inexistência de relação causa-efeito entre a ocorrência recente de acumulação de algas e o teste de dragagem na lagoa de Óbidos, realizado no dia 20 de agosto de 2021 (com a duração de 2h30m), o qual foi realizado com o objetivo de aferir do correto funcionamento do equipamento de dragagem e do posicionamento definitivo do mecanismo de repulsão por arco de dispersão (rainbow). Acresce ainda que não foram detetados, por observação visual no local de repulsão, quaisquer vestígios de algas.
8 – Os sedimentos repulsados (dragados no início do canal comum no meio da zona superior da lagoa) apresentavam cor escura, dado serem parcialmente constituídos por argilas, siltes e areias lodosas, não tendo sido detetado qualquer tipo de contaminação conforme atestam os resultados dos ensaios de sedimentos e de monitorização da qualidade da água realizados na zona de deposição logo após o teste. A repulsão dos sedimentos na praia imersa promoveu, como esperado, a ocorrência de pluma túrbida no mar até cerca de 300m/400 m para sul, a qual dispersou em cerca de uma hora.
9 – Após o reposicionamento do mecanismo de repulsão será realizado novo teste para avaliação final da conformidade do processo de dragagem, dando-se início às dragagens da zona superior da lagoa de Óbidos, tal como previsto em projeto e na empreitada. Refira-se que no decurso da empreitada será expectável a formação de plumas túrbidas devido à repulsão dos sedimentos no mar, prevendo-se a sua dispersão espacial (sedimentos mais finos - siltes e argilas) na massa de água oceânica por ação da ondulação e correntes. De forma localizada e pontual poderá ainda observar-se no areal das praias a sul da lagoa de Óbidos a acumulação superficial e temporária dos sedimentos mais finos de cor escura (sem qualquer matéria orgânica e isentos de contaminantes), prevendo-se que os mesmos sejam rapidamente remobilizados e difundidos pela ação conjugada das ondas, correntes e marés. Alguns destes sedimentos, designadamente os incluídos no domínio das areias, serão incorporados na deriva litoral, contribuindo para o reforço localizado do balanço sedimentar e, consequentemente para a mitigação da erosão costeira, em linha com a estratégia de gestão sedimentar integrada consagrada pela APA.
10 – A empreitada de dragagem zona superior da lagoa de Óbidos contempla plano de monitorização ambiental especificamente dirigido para o efeito, tal como decorre da Declaração de Impacte Ambiental (DIA) emitida, contemplando ensaios periódicos à qualidade da água e dos sedimentos, bem como a monitorização da hidrodinâmica, a qual se encontra a cargo do LNEC.
11 – Refira-se que a APA tem efetuado campanhas regulares de monitorização da qualidade da água balnear nas praias do município de Peniche, tendo a última campanha sido efetuada no passado dia 10 de agosto, apresentando resultados abaixo dos limites definidos legalmente para os parâmetros microbiológicos. A realização da próxima campanha está prevista para o dia 31 de agosto.
12 – A APA tem promovido e reforçado a interlocução regular com as diversas autoridades locais e regionais, disponibilizando a estas a informação mais atualizada disponível, de modo a facilitar a divulgação e comunicação das diferentes fases da presente intervenção aos cidadãos.