A nível de artesanato, Peniche é rico não só pelas famosas rendas de bilros, mas também por outro tipo de artesanato que, não tendo um peso tão relevante, já é importante a nível de divulgação turística do artesanato de Peniche. Os artesãos das rendas de bilros, assim como os das outras artes, encontram-se enquadrados e representados em quatro entidades: a Escola de rendas de bilros, a Associação Peniche - Rendibilros, a Associação dos Artesãos de Santa Maria e a ALA – Associação Local de Artes.
A Associação Local de Artes existe desde 1994, conta quase com meia centena de artesãos a trabalhar diversas formas de expressão artesanal. Com sede na Fortaleza de Peniche, é neste cenário imponente do património histórico da cidade de Peniche que alguns dos artesãos da ALA desenvolvem a sua atividade artesanal, onde é possível apreciar os artesãos a trabalhar ao vivo.
Os materiais utilizados pelos artesãos da ALA são diversos: desde os trabalhos em pedras de calcário originais e únicas das praias de Peniche, trabalhos em madeira como as réplicas de embarcações em miniatura e peças em madeira alusivas ao surf, representações de penicheiros em tecido endurecido, trabalhos em cerâmica e pintura.
Quanto às rendas de bilros, não é fácil localizar, com exatidão, a data do seu aparecimento em Peniche, ainda que seja indiscutível que já no século XVII os bilros saracoteiam nas almofadas cilíndricas das mulheres penichenses a dar vida às formas mais ou menos ingénuas dos desenhos traçados sobre os piques cor de açafrão, dado que, pelo menos num testemunho datado de 1625, se regista a doação de uma renda e, poucos anos depois, já a pintora Josefa de Óbidos as inclui em vários dos seus quadros. Por outro lado, como pelo extenso litoral brasileiro se tecem as chamadas “rendas da praia”, com artefactos e técnica muito semelhantes aos usados pelas rendilheiras de Peniche, é ainda legítimo supor que, no início de tal século, aquando do surto migratório e repovoamento do Brasil, possa ter ido de Peniche, com as mulheres dos pescadores mareantes que da região emigraram, um saber popular que, em terras de Vera Cruz, as penichenses terão naturalmente disseminado.
Entretanto, a originalidade e a qualidade das rendas de bilros de Peniche atingiram tal grau de perfeição e notoriedade, que toda e qualquer renda de bilros portuguesa passou a ser conhecida, simplesmente, por renda de Peniche. Em meados do séc. XIX existiam em Peniche quase mil rendilheiras e, segundo Pedro Cervantes de Carvalho Figueira, eram oito as oficinas particulares onde crianças a partir dos quatro anos de idade se iniciavam na aventura desta arte. Mas foi em 1887, com a fundação da escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia (mais tarde Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos), sob a direção de D. Maria Augusta Bordalo Pinheiro, que as rendas de Peniche atingiriam um grau de perfeição e arte difíceis de igualar.
Com o advento da industrialização, as rendas de bilros de Peniche foram sofrendo uma regressão, que atingiu o seu ponto mais drástico com a extinção da disciplina facultativa da sua aprendizagem no ensino secundário. Felizmente que, a par de outras iniciativas particulares, com o aparecimento dos Artesãos de Santa Maria (da responsabilidade da paróquia e atualmente extinta), da Escola de rendas de Peniche (da Câmara Municipal) e da constituição da Peniche – Rendibilros (Associação para a defesa e promoção das rendas de bilros de Peniche), esta arte foi sendo salvaguardada e dignificada, existindo um número considerável de penicheiras que sabem tecer renda de bilros ou se dedicam à sua confeção.
A Câmara Municipal de Peniche dedica, todos os anos, durante o mês de Julho um dia destinado a estas artesãs - Dia da Rendilheira, agora inserido no programa da Mostra Internacional de Rendas de Bilros, dando-nos a possibilidade de nos maravilharmos com suas obras.