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Forte de S. João Baptista - Ilha da Berlenga
Do extenso emaranhado factual, registado documentalmente, que ao longo de séculos moldou a História desta comunidade, merecem assumido destaque alguns acontecimentos que ultrapassando a fronteira da monografia local, se afirmam no contexto de uma ampla História de índole nacional e internacional.
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Campanha de Júlio César
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Vista aérea da Península de Peniche
O escritor romano Díon Cássio, cronista do célebre general romano Júlio César, deixou-nos o relato de uma das suas campanhas militares contra os lusitanos, decorrida em 61 a. C., e que teve como palco uma ilha situada junto à costa ocidental da Península Ibérica, realidade insular correspondente, muito provavelmente, à então ilha de Peniche.
Segundo Díon Cássio, Júlio César, na altura governador da Hispânia Ulterior, numa das suas campanhas vence em batalha os habitantes do Monte Hermínio (lusitanos) perseguindo-os na sua fuga até ao oceano. Estes, aí chegados, abandonam o continente e navegam até uma ilha junto à costa onde se refugiam.
Para aceder a esta ilha, Júlio César manda construir algumas jangadas nas quais manda uma parte do seu exército. Esta força navega até um quebra-mar existente junto à ilha, aí desembarcando e fazendo a restante travessia a pé. Porém, durante o desembarque, a embarcação do líder da expedição é empurrada para o largo pelo refluxo da maré, separando-se do restante contingente. Sem liderança e provavelmente desprovidas de superioridade numérica, as tropas romanas são derrotadas pelos lusitanos, tendo sobrevivido apenas um deles, de nome Públio Ceva, que depois de perdido o seu escudo e de ter recebido vários golpes, se lançou à água, salvando-se a nado.
Após este desaire Júlio César convoca algumas embarcações da frota de guerra atracada em Cádis, com as quais atinge a ilha de Peniche, derrotando finalmente os rebeldes lusitanos aí refugiados.
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Desembarque Inglês de 1589
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Vista orla costeira junto à povoação da Consolação
Em 26 de Maio de 1589, desembarca na baía meridional do istmo de Peniche, junto à actual povoação de Consolação, um exército inglês liderado por D. António Prior do Crato, composto por cerca de doze mil homens sob o comando do oficial Sir John Norris, tendo como missão a restauração da soberania e independência de Portugal, à data sob dominação filipina.
Depois de uma leve escaramuça com a guarnição da Fortaleza, a praça de Peniche foi tomada e o exército inglês marchou com relativa facilidade até às portas de Lisboa, onde estabeleceu acampamento, ao mesmo tempo que, sob o comando do almirante Francis Drake, a esquadra que o desembarcara em Peniche rumava a caminho de Cascais.
Por manifesta desorganização do exército invasor ou pela ausência do indispensável auxílio popular e apoio da alta aristocracia portuguesa, D. António Prior do Crato acaba por não concretizar os seus intentos, retirando-se de Lisboa com o seu exército passados alguns dias.
Terminava assim em fracasso esta primeira tentativa de libertação do reino do jugo filipino. -
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Recontro Militar na Berlenga
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Forte de S. João Baptista - Ilha da Berlenga
Construído com a finalidade de impedir a ocupação desta ilha por corsários norte-africanos ou por potências inimigas, o Forte de S. João Baptista, situado na Ilha da Berlenga, viveu em Junho de 1666 o episódio bélico mais célebre da sua história.
Nessa data, o Forte de S. João Baptista viu-se sitiado por uma esquadra espanhola, composta por catorze naus e uma caravela, comandada por D. Diogo Ibarra.Defendida, à altura, por uma pequena guarnição, inferior a vinte homens, e contando com apenas nove peças de artilharia, esta fortificação liderada pelo cabo Avelar Pessoa, conseguiu resistir durante dois dias ao feroz bombardeamento inimigo, bem como provocar importantes baixas nas forças sitiantes, traduzidas em cerca de quinhentos mortos, uma nau afundada e duas outras fortemente danificadas, contra um morto e quatro feridos lusos.
O esgotamento dos mantimentos e das munições, e a deserção de um dos soldados, que expôs a D. Diogo Ibarra a dramática situação da guarnição portuguesa, motivaram por fim a capitulação do Forte de S. João Baptista.
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San Pedro de Alcantara
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Gravura assinalando um dos locais de enterramento dos náufragos
Um dos acontecimentos mais marcantes da longa História trágico-marítima de Peniche, e do último quartel do séc. XVIII, terá sido o naufrágio do navio espanhol San Pedro de Alcantara, em 1786, na costa Norte de Peniche, junto à península da Papoa. A importância deste naufrágio advém do elevado número de vítimas daí resultantes (128), entre espanhóis, índios e escravos, e, particularmente, do elevado valor da carga transportada: 150 toneladas de ouro e prata, e 600 toneladas de cobre.
Este acidente motivou uma gigantesca operação de recuperação de salvados que trouxe a Peniche mergulhadores profissionais de toda a Europa, a soldo da coroa espanhola, com a missão de recuperar a preciosa carga do San Pedro de Alcantara.
Deste acontecimento advieram também importantes repercussões de ordem económica e social para a população de Peniche. Com efeito, a presença de largas dezenas de forasteiros entre 1786 e 1789 permitiu um grande desenvolvimento da economia local, particularmente do comércio. Por outro lado, também muitos penichenses foram recompensados pela coroa espanhola pela sua colaboração na recuperação dos salvados, recompensas que assumiram, entre outras, a forma de dotes atribuídos às donzelas da vila, algumas das quais viriam a constituir família com mergulhadores que permaneceram em Peniche.
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