História e Património - Concelho de Peniche
- Vista do Sítio da Ponta do Trovão Costa Norte da Península
As falésias calcárias que bordejam toda a Península de Peniche, contam uma história contínua, com mais de 20 milhões de anos da evolução geológica do Jurássico inferior de Portugal. Uma história impressa nas rochas que remonta aos primórdios do Jurássico (há cerca de 200 milhões de anos) e à "vida" mais recente do Planeta Azul, quando os dinossauros já povoavam as zonas continentais e a Península Ibérica ficava bem pertinho da porção setentrional do continente americano. Representa, por isso, um lugar ideal para estreitar mais a ligação entre a geologia teórica e a prática.
A variabilidade da sucessão calcária e as condições dos afloramentos constituem uma óptima base para a realização de actividades de campo nos domínios da Estratigrafia, Paleontologia, Sedimentologia, Análise de Bacias Sedimentares, Geomorfologia, Património Geológico e Geologia Ambiental.
O sítio da Ponta do Trovão, localizado na fachada norte da Península de Peniche, é unanimemente considerado pela comunidade científica internacional como possuindo o melhor registo a nível mundial da transição entre os intervalos de tempo Pliensbaquiano-Toarciano (andares do Jurássico Inferior).
Este reconhecimento ficou patente na classificação, em dezembro de 2014, pela International Commission on Stratigraphy da International Union on Geological Sciences, da Ponta do Trovão como Global Boundary Stratotype Section and Point (GSSP) do Toarciano (Jurássico Inferior). A 25 de julho de 2016 decorreu a cerimónia de colocação do Prego Dourado (Tradicional Golden Spike) no local.
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Geomorfologia
Ao longo dos últimos milénios, o território onde atualmente se implanta o concelho de Peniche parece ter apresentado diferentes configurações de índole geomorfológica.
No período pré-histórico, nomeadamente durante o Paleolítico Superior, por força da chamada Regressão Flandriana causada pela Glaciação de Würm, o nível médio do mar fixava-se a 120/125 metros abaixo do nível atual, estabelecendo a então linha de costa a aproximadamente 20 Quilómetros a Oeste da atual, pelo que neste período este território integrava uma realidade interior relativamente afastada do litoral. Com o fim desta era glaciar verifica-se uma subida gradual do nível do mar, sendo que para o período romano, as fontes históricas parecem apontar para o carácter insular da atual península de Peniche, realidade geográfica que se terá mantido durante a Idade Média.
- Concelho de Peniche na atualidade
- Possível reconstituição da área do Concelho de Peniche há dois mil anos
A formação do istmo que ligou a ilha ao continente ter-se-á iniciado apenas nos finais do séc. XIV, por força da acumulação de areias transportadas por via marinha e fluvial (proximidade da foz do Rio de S. Domingos), processo que lentamente moldou a ilha na actual península de Peniche, criando o extenso areal que a Norte confina com o Baleal e a Sul com a Consolação.
Oscilando entre uma realidade geomorfológica de índole continental, insular e peninsular, este território parece ter moldado e condicionado de um ponto de vista socio-económico e cultural, as populações que ao longo dos tempos o ocuparam.
A omnipresença desta paisagem na vivência humana observa-se na etimologia do topónimo Peniche. Com efeito, o nome Peniche parece derivar da palavra latina peninsula (paene + insula) que à letra significa “quase ilha”. Esta origem, aparentemente comprovada pela documentação histórica conhecida, aponta para um quadro cíclico de maior ou menor insularidade desde território, realidade porventura variável de acordo com o ritmo das marés, e cuja memória se terá perpetuado num topónimo que, por força da utilização oral, evoluiu para o seu termo atual: Peniche.
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Falésias do Cabo Carvoeiro
O perímetro envolvente ao Cabo Carvoeiro (Peniche) mostra uma paisagem dominada por uma sucessão de calcários e rochas afins, datada essencialmente do Jurássico inferior (entre os 200 e os 180 milhões de anos). As condições excecionais de exposição do afloramento permitem uma observação contínua e detalhada do registo sedimentar, capaz de reconstituir a história geológica daquele compartimento temporal ocorrida em Portugal. Os imensos atributos geológicos aí presentes, alguns deles singulares no contexto da geologia nacional, são facilmente comprovados, através de intensa e inesgotável atividade científica produzida particularmente, nos diferentes domínios da Geologia e da História Natural.
- Vista da Costa Norte da Península
- Visita à Brecha Vulcânica da Papôa
Para além do impacto científico deste local, o potencial educativo e de divulgação científica é igualmente evidente. A experiência tem demonstrado que este afloramento constitui um importante laboratório para actividades letivas, nos diferentes domínios da geologia sedimentar, sejam elas ao nível da formação de professores, nos ensinos universitário, secundário ou básico e, mesmo, para o cidadão comum, interessado pelas ciências da Terra.